sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A teoria da conspiração que mata


Por mais triste que essas notícias possam ser, já vimos o ser humano matar por muito pouco, como o caso que ficou famoso recentemente no Guarujá, litoral paulista, em que um jovem de 22 anos foi assassinado por causa de uma dívida de R$ 7.
Agora, fazer trabalho humanitário de vacinação contra a poliomielite entrou nessa lista absurda de “motivos para matar”. Pelo menos foi como agiram radicais islâmicos no Dia de Ano Novo, no qual mataram 7 trabalhadores de uma campanha de vacinação para crianças.

Mesmo pelos padrões exagerados do Taleban paquistanês e seus aliados, a execução a sangue frio de pessoas inocentes – seis delas mulheres – é um ato inexplicavelmente perverso.
Em dezembro, homens armados já haviam matado pelo menos cinco integrantes de uma equipe de campanha de vacinação contra pólio, em duas cidades diferentes no Paquistão. Segundo os jornais, é provável que os ataques tenham sido uma tentativa do Taleban de impedir a iniciativa apoiada pela ONU.
E por que essas pessoas estão sendo mortas? Se você acredita que teorias da conspiração são fantasias inofensivas, reconsidere.
O Taleban e seus aliados pensam que as vacinas de pólio são um complô ocidental projetado para tornar os muçulmanos inférteis – ou talvez dar-lhes Aids.
O Taleban se declarou contra a vacinação de pólio, dizendo que as equipes que trabalham na campanha são espiões americanos, e que a vacina em si causa malefícios.
Esta teoria da conspiração, que tende a variar de conteúdo, tem tomado áreas do Paquistão, Afeganistão e norte da Nigéria. Consequentemente, esses países são os únicos lugares onde a pólio ainda é endêmica.
Sem dúvida, a humanidade é capaz de erradicar a pólio, assim como a varíola foi exterminada em 1979. No entanto, uma suspeita medieval de que duas gotas que protegem as crianças são na verdade potenciais monstros líquidos têm causado prejuízos incontáveis – e levado a assassinatos puros e simples.
Há que se levar em conta que os motivos para desconfiar da vacina não são absolutamente zero: em 2011, a CIA (agência de inteligência americana) usou um programa de vacinação contra a hepatite para cobrir sua vigilância de Osama bin Laden (um médico paquistanês realizou um programa falso de imunização para ajudar a CIA a caçar Osama).
Mesmo assim, daí para causar doenças ou infertilidade é um passo muito grande. Além disso, a teoria da conspiração da pólio existe há muito tempo. Por exemplo, em 2003, todas as vacinas foram suspensas em três estados da Nigéria, causando um surto da doença, por causa de desconfianças infundadas.
Não só a pólio, aliás, mas muitas outras doenças persistem em certos lugares do mundo por conta de teorias absurdas de que elas fazem mais mal do que bem – inclusive de que causam autismo.
A intolerância obscurantista que permite que a pólio sobreviva é que deve ser combatida. Qualquer pessoa que entretém teorias da conspiração está ajudando a criar o clima perfeito para este mal persistir – e outros nascerem, como o assassinato em massa de trabalhadores humanitários.
Os especialistas alertam: fazer campanha contra as vacinas de pólio é o mesmo que fazer campanha em favor de crianças incapacitadas.[TelegraphIGG1]

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