terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cisma do Oriente.

papa_patriarca.jpgUm dos eventos mais significativos na história das religiões é a dissenção entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa. Esta dissenção vem de longa data e tem um nome: Cisma do Oriente. Esta briga entre católicos e ortodoxos e foi a causadora de sérias disputas e perseguições na Idade das Trevas.
Aqui estudaremos os fatos que levaram a esta briga e tentar entender o motivo das diversas vertentes cristãs não se entenderem (se é que algum dia seremos capazes de entender).
constantino.jpgRelembrando – No século IV Constantino I, primeiro Imperador de Roma a aceitar o Cristianismo como religião oficial do Império Romano, reuniu no ano 325 E.C., na cidade de Nicéia, o primeiro concílio ecumênico, que ficou conhecido como 1º Concílio de Nicéia, onde ficou definida a divindade de um tal de Jesus Cristo.
As Igrejas Ortodoxas, foram divididas em 5 partes:
  • Igreja Católica Ortodoxa de Alexandria;
  • Igreja Católica Ortodoxa de Constantinopla;
  • Igreja Católica Ortodoxa de Antioquia;
  • Igreja Católica Ortodoxa de Jerusalém;
  • Igreja Católica Apostólica Romana;
Ainda foram feitos mais seis concílios antes do cisma das Igrejas Ortodoxas e Romana. São eles:
? Constantinopla I (381)
  • Divindade do Espírito Santo, com o ensino da fórmula “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”(Símbolo Niceno-Contantinopolitano).
  • Condenação de Macedônio, bispo de Constantinopla, que defendia que o Espírito Santo não era Deus.
  • Divisão das Pentarquias.
? Efésio (431)
  • Maternidade Divina de Maria. Sim, até aquela época ninguém tinha se decidido se a gravidez fora divina ou não.
  • Condenação de Nestório que se opôs ao termo “Mãe de Deus”, porque abordava a divindade de Cristo de tal maneira que poderia ofuscar sua natureza humana, além de não aceitar o emprego de imagens, a não ser a cruz.
  • Em Cristo uma Hipóstase, a Divina. Jesus era Deus e pronto, acabou-se!
? Calcedônia (451)
  • Dualidade da natureza em Jesus Cristo, reafirmando que ele era homem e deus ao mesmo tempo.
  • Condenação de Eutiques, que ensinava o monofisismo, ou seja, a doutrina que admitia em Jesus Cristo uma única natureza, a divina. Como podem ver, uma hora não sabiam se a natureza de Jay Cee era divina, humana ou ambas. Eles esqueceram de perguntar ao próprio o que ele achava, mas aí é uma questão de fé de cada um. :-P
? Constantinopla II (553)
  • Condenou as obras escritas pelos seguidores do herege Nestório.
? Constantinopla III (680)
  • Dualidade de Vontades em Jesus Cristo, não contrariadas uma pela outra, mas a vontade humana sujeita à vontade Divina, uma espécie de “esquizofrenia santa”.
  • Condenação do Monotelismo, que defendia que o Jóquei de Jegue detinha apenas uma única natureza (a divina, é claro). Eutiques, arquimandrita dum mosteiro de Constantinopla, defendeu que, havendo uma só pessoa em Jay Cee, também devia haver uma só natureza, admitindo que a humana fora absorvida pela divina.
? Nicéia II (787)
  • Condenação do Iconoclasmo, para a erradicação da adoração de ícones religiosos, como as figuras sacras. Não sei qual é a diferença entre adorar ícones e imagens. É bem similar a adorar três figuras e se dizer monoteísta. Enfim…
Entendendo a Ortodoxia
Muito bem, depois de um breve resumo dos concílios, vamos examinar a Ortodoxia.
cruz_ominiatura.jpgA Igreja Católica Apostólica Ortodoxa (mais conhecida hoje por Igreja Ortodoxa – do grego ?????, reto, e ???? doutrina) tem entre seus fiéis os chamados de “cristãos ortodoxos”. A Ortodoxia é formada por diversas igrejas cristãs orientais que professam a mesma fé e, com algumas variantes culturais, praticam basicamente os mesmos ritos.
A autoridade suprema na Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa é o Santo Sínodo Ecumênico, que se compõe de todos os Patriarcas chefes das Igrejas Autocéfalas e os Arcebispos Primazes das Igrejas Autônomas, que se reúnem por chamada do Patriarca Ecumênico de Constantinopla e sob a sua presidência, em local e data que ele determinar.
A autoridade suprema regional em todos os Patriarcados autocéfalos e Igrejas Ortodoxas autônomas é da competência do Santo Sínodo Local, que é composta dos Metropolitas chefes das arquidioceses sob a presidência do próprio Patriarca ou Arcebispo que convoca a reunião, marcando a data, o local e a ordem do dia.
Hoje em dia, tais Igrejas Ortodoxas Autocéfalas incluem os 4 antigos patriarcados orientais (Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém), assim como as outras dez Igrejas Ortodoxas que surgiram nos séculos posteriores, quais sejam: Rússia, Sérvia, Romênia, Bulgária, Geórgia, Chipre, Grécia, Albânia e Repúblicas Tcheco e Eslováquia.
Por iniciativa própria, o Patriarcado de Moscou concedeu o status de autocefalia a maior parte de suas paróquias nos Estados Unidos que passou a se denominar Igreja Ortodoxa na América; não obstante, o Patriarcado de Constantinopla reclama para si a prerrogativa de outorgar autocefalia e, por este motivo, outras Igrejas Ortodoxas ainda não reconhecem o status da Igreja Ortodoxa na América.
Existem 5 Igrejas Ortodoxas Autônomas que funcionam de modo independente no que diz respeito aos seus assuntos internos, porém, sempre dependendo canonicamente de uma Igreja Ortodoxa Autocéfala. Na prática, isto significa que a “cabeça” de uma Igreja Autônoma deverá ser confirmada em ofício pelo Santo Sínodo de sua Igreja-Mãe. Pensou que era feito de qualquer jeito? Não é não.
As Igrejas Ortodoxas de Finlândia e Estônia são dependentes do Patriarcado Ecumênico, enquanto que a de Monte Sinai depende do Patriarcado de Jerusalém. A estas 3 Igrejas Ortodoxas Autônomas deveríamos acrescentar as outras 2 Igrejas que Moscou outorgou autonomia: a Igreja Ortodoxa da China e a Igreja Ortodoxa do Japão, ambas filhas da Igreja Russa. Tais ações ainda não tiveram o reconhecimento oficial do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla.
Entendendo a Igreja Católica Apostólica Romana
cruz_rminiatura.jpgA Igreja Católica Apostólica Romana, ou simplesmente Igreja Católica (ou abreviadamente ICAR), na perspectiva do número de fiéis, é considerada a principal organização religiosa do mundo e o ramo mais importante do cristianismo. Ela se define notavelmente pelas palavras do Credo, como:
UNA – Nela subsiste a única instituição fundada por Cristo para reunir o povo de Deus;
SANTA – Esposa de Cristo, por sua ligação única com Deus e que visa, através dos sacramentos, santificar e transformar os fiéis;
CATÓLICA – Espalhada por toda a Terra e portando a integralidade do depósito da fé;
APOSTÓLICA – Fundamentada na doutrina dos apóstolos cuja missão recebeu sem ruptura.
Um dos traços que a caracterizam é o reconhecimento do Bispo de Roma (Papa para os íntimos), como sucessor direto do apóstolo Pedro e como vigário de Jesus Cristo. A adjetivação “católica” tanto é aplicada à Igreja Latina (de “rito latino”) quanto às Igrejas orientais católicas. Entretanto, é mais empregada referindo a primeira, sendo “católicos” os fiéis nela batizados, ou batizados em outras Igrejas particulares, de rito diferenciado, mas que nela tenham professado fé.
Segundo Marcos 16:14-15, aos apóstolos foi cabido divulgar o evangelho (boa nova) a toda criatura de todas as nações. Conseguem imaginar o camarada pregando o evangelho para uma ema? Eu tb não. Que tal um pigmeu antropófago? Um pensamento que não deixa de ter um certo “sabor”. ;-)
Muito bem, Deus (supostamente) concedeu a Pedro, o pescador de homens (ui!), a ser transmitido a seus sucessores, da mesma forma permanece todos apóstolos de apascentar a Igreja, o qual deve ser exercido para sempre pela sagrada ordem dos bispos. Vocês queriam saber porque a ICAR ensina que os bispos, por instituição divina, sucederam aos apóstolos como pastores da Igreja, já que aqueles que os ouvem, ouvem a Jesus Cristo em pessoa, e quem os despreza, despreza J.C. da mesma forma. A boa e velha ameaça. Típico, não é mesmo?
Os católicos acreditam na Santíssima Trindade. Os pontos de vista católicos diferem dos ortodoxos em alguns pontos, incluindo a natureza do Ministério de S. Pedro (o Papado), a natureza da Trindade e o modo como ela deve ser expressa no Credo Niceno, assim como o entendimento da salvação e do arrependimento.
Os católicos divergem dos protestantes em vários pontos, incluindo a necessidade da penitência, o significado da comunhão etc. Esta divergência levou a um conflito sobre a doutrina da justificação (na Reforma ensinava-se que “nós justificamo-nos apenas pela fé”). O diálogo ecumênico moderno levou a alguns consensos sobre a doutrina da justificação entre os católicos romanos e os luteranos, anglicanos e outros.
E os cristãos continuam se entender maravilhosamente bem entre si

Sobre a Cisma do Oriente
cisma.jpgO Cisma Ocidente-Oriente, Cisma do Oriente ou Grande Cisma foi a cisão (cisma) formal da unidade da igreja cristã em igreja Oriental Bizantina (Ortodoxa) e a Ocidental (Romana), que tornou-se documentalmente evidente em 1054.
A palavra cisma, do grego ??????, schisma (de ??????, schizmo, “dividir”), significa uma divisão, normalmente ocorrida numa organização.
Bem, dá-se o nome de Cisma do Oriente ao período compreendido entre 1378 e 1417, durante o qual dois e, mais tarde, três papas reclamavam a sua legitimidade na direção da Igreja. Todavia, alguns autores (na visão dos ortodoxos, “errônea e abusiva”) designam de Grande Cisma esta divisão da Igreja do Ocidente nos séculos XIV e XV.
Qual foi a motivação da referida Cisma? Bem, o distanciamento entre as duas igrejas cristãs tem raízes culturais e políticas muito profundas, cultivadas ao longo de séculos. As tensões entre as duas igrejas datam no mínimo da divisão do Império Romano em oriental e ocidental, e a transferência da capital da cidade de Roma para Constantinopla, no século IV. Uma diferença crescente de pontos de vista entre as duas igrejas resultou da ocupação do oeste pelos outrora invasores bárbaros, enquanto o leste permaneceu herdeiro do mundo clássico. Enquanto a cultura ocidental se foi paulatinamente transformando pela influência de povos como os germanos, o Oriente permaneceu desde sempre ligado à tradição da cristandade helenística. Era a chamada Igreja de tradição e rito grego. Isto foi exacerbado quando os papas passaram a apoiar o Sacro Império Romano no oeste, em detrimento do Império Bizantino no leste, especialmente no tempo de Carlos Magno.
Havia também disputas doutrinárias e acordos sobre a natureza da autoridade papal. A Igreja de Constantinopla respeitou a posição de Roma como a capital original do império, mas ressentia-se de algumas exigências jurisdicionais feitas pelos papas, reforçadas no pontificado de papa Leão IX (1048-1054) e depois no dos seus sucessores. Para além disso, existia a oposição do Ocidente em relação ao cesaropapismo bizantino, isto é, a subordinação da Igreja oriental a um chefe secular, como acontecia na Igreja de Bizâncio. Uma ruptura grave ocorreu de 456 a 867, sob o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, patriarca Fócio.
Quando Miguel Cerulário se tornou patriarca de Constantinopla, no ano de 1043, deu início a uma campanha contra as Igrejas latinas na cidade de Constantinopla, envolvendo-se na discussão teológica da natureza do Espírito Santo, questão que viria a assumir uma grande importância nos séculos seguintes.
Roma enviou o cardeal Humberto a Constantinopla em 1054 para tentar resolver este problema. No entanto, esta visita acabou do pior modo, com a excomunhão do patriarca Cerulário. Isso foi entendido como a excomunhão de toda a Igreja Bizantina e ao qual o Sínodo e Cerulário responderam do mesmo modo a Roma, excomungando o papa Leão IX. As Igrejas, através de seus representantes oficiais, também anatematizaram (denunciaram formalmente) uma a outra. A porradaria começou e ninguém mais se entendeu.  :shock:
Todo mundo excomungou todo mundo. Todo mundo foi condenado ao inferno um do outro. O Rabudão lá de baixo estava rolando de rir e o mundo começou a ficar ainda pior para aqueles que já não sabiam mais a quem estavam rezando. Foi preciso muita fé para ter-se apegado a alguma coisa nessa altura. :-D
Pelo sim, pelo não, a deterioração das relações entre as duas Igrejas contribuiu largamente para o triste e célebre episódio do saque de Constantinopla durante a 4ª Cruzada (1204) e o estabelecimento do Império Latino (Ocidental) por algum tempo. Isso aprofundou ainda mais a ruptura.
Houve várias tentativas de reunificação, principalmente nos conselhos eclesiásticos de Lyon (1274) e Florença (1439), mas as reuniões mostraram-se efêmeras. Estas tentativas acabaram efetivamente quando os turcos otomanos tomaram Constantinopla, em 1453, e ocuparam quase todo o antigo Império Bizantino por muitos séculos. As mútuas excomunhões só foram levantadas em 7 de Dezembro de 1965, pelo Papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras I, por forma a aproximar as duas Igrejas, afastadas havia séculos. As excomunhões, entretanto, foram retiradas pelas duas Igrejas em 1966. Somente recentemente o diálogo entre elas foi efetivamente retomado, a fim de sanar o cisma.
Podemos resumir isso tudo no fato de que, após tantos conflitos, divisões, papas sem visão pastoral e universal, não é de se estranhar que, aos olhos do povo cristão, uma Igreja nacional, controlada pelo poder do Estado, fosse a melhor solução. Isso aconteceu e foi uma das causas que explicou o sucesso da Reforma Protestante na Europa. Ou seja, “já que está zoneado mesmo, vamos dar ouvido àqueles teólogo doido ali. De repente, ele resolve a parada”.
Na França, em 1438 se ratificou como lei estatal a Teoria Conciliar, a proibição de apelar para Roma como última instância, limitações dos direitos da Santa Sé nas nomeações para ofícios e benefícios na França. Somente em 1905, o Papa voltou a nomear os bispos franceses.
Na Alemanha, os príncipes usurparam a jurisdição eclesiástica em seus territórios com a imposição de taxas sobre os bens eclesiásticos. O sentimento anti-romano é muito forte, cunhando-se até a expressão “doutor em Roma, burro na Alemanha”.
Na Inglaterra, a descrença em relação a Roma se fortaleceu com o cativeiro de Avinhão: aos olhos dos ingleses o papa era instrumento do soberano francês contra quem a nação inglesa se empenhou em longa e violenta luta. Vários decretos do século XIV negam ao papa o direito de nomeação para os ofícios eclesiásticos ingleses, proíbem o apelo a Roma e a introdução das Bulas papais. De fato, a Igreja inglesa era independente de Roma.
Na Espanha, a unidade religiosa foi considerada básica para a unidade nacional. Em 1478 nasceu a Inquisição espanhola sob controle estatal. Em 1492, com a conquista da América, Portugal e Espanha adquirem o direito do Padroado, pelo qual assumiram o governo da Igreja.
Esses fatos podem explicar, em parte, o por que da tragédia religiosa do século XVI, qdo Lutero provocou a divisão religiosa e política da Europa cristã. Séculos de relaxamento pastoral no coração da Igreja Romana afastaram numerosos povos e nações. Lutero simbolizou, com seu gesto, as numerosas gerações que clamavam pela reforma da Igreja. Mas, isso fica para outro artigo.
In te Domine speravi ne confundar in aeternum:
In iustitia tua libera me
.
É em vós, Senhor, que procuro meu refúgio; que minha esperança não seja para sempre confundida.
Por vossa justiça, libertai-me…

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