Religiões,
de uma forma geral, não gostam de assumir o caráter escravagista deles.
Quando falo escravidão me refiro ao fato de nós, pobres e toscos
mortais, estarmos subordinados a alguma entidade mágica, de forma que
tal entidade faz o que quer e bem entende e nós temos que seguir, de
forma irremediável.
Acontece que escravidão não é uma coisa
legal, e religiosos procuram arrumar um subterfúgio para dizer que a sua
religião não é ruim e que não há nenhum tipo de escravidão. Dizem que
as pessoas são livres e daí surgiu o estúpido conceito de livre
arbítrio. Não que ter liberdade de escolha seja ruim, muito pelo
contrário. O problema reside num paradoxo religioso, pois eles insistem
que o deus particular (os outros são falsos. Só o SEU é que é
verdadeiro) é poderoso e decide quem o seguirá e receberá recompensas.
Para pessoas racionais, o problema fica evidente; para quem apenas
acredita, não há nada de errado. Vamos examinar isso de perto.
O conceito de liberdade frente às
religiões, é algo sem sentido. Percebam: você tem o direito de escolher
não seguir um deus, só que se não o fizer – independente do tipo de
pessoa que você seja – você será condenado a penas eternas. Assim,
levando em conta a brevíssima vida que temos, teremos uma eternidade
inteira pela frente de dor e sofrimento. Isso é justo? Mesmo que eu seja
uma pessoa boa, que ajude ao próximo, que não acume excessivos bens
materiais, que lute pelos desesperançados, que faça por onde ajudar a
melhorara vida dos outros, pouco importa. O crime mortal de escolher não
seguir um deus me condenará à penas horríveis. Enquanto isso, o pastor
ladrão, o padre pedófilo, o pai-de-santo safado, a cigana
estelionatária, o muçulmano terrorista etc., todos gozarão da Vida
Eterna em esplendor porque eles seguiram um livro religioso. Deus é
amor? Que amor é esse?
“Mas Deus nos avisou.”
Avisou? Quando? Não me lembro de ele ter
aparecido. Eu ouvi alguns seguidores dizendo assim, assado. Mas o que
os seguidores de uma religião pregam é o mesmo que membros de OUTRA
religião, que rezam para OUTRO deus pregam. Como saber QUAL DEUS é o
verdadeiro? Isso é algum tipo de roleta russa divina, onde você sempre
perde? Parece.
Cristãos sempre saem com o argumento que
as pessoas são responsáveis pelos seus atos e arcarão com sua
responsabilidade. Mentira! Uma prova cabal que não há tal liberdade é a
própria Bíblia que cristãos não leem. Eles sempre dizem que todos os
joelhos se dobrarão perante Deus e coisa e tal. A citação completa está
em Filipenses cap. 2:
5. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
6. Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deusa,
7. Mas esvaziou-se a si mesmob, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;
8. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruzc.
9. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nomed;
10. Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra,
11. E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
a Como ele não teve por usurpação ser igual a Deus se ele era Deus? Obviamente, não espero que religiosos expliquem isso.
b Também não espero que expliquem o que é esvaziar-se em si mesmo.
c Mentira, pois ele mesmo reclamou na hora dizendo “Eli, Eli, lamá sabactâni”/”Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27: 46 ; Marcos 15:34)
d Deus exaltou a si mesmo?
Os versículos deixam claro uma coisa: TODOS
os joelhos se dobrarão perante Jesus. Sem exceção, independente do que
seja ou o que aconteça. Toda língua confessará que Jesus é o Senhor,
para a glória de Deus. Por que Deus precisa que confessem isso para se
sentir glorioso, é algo que não consigo entender, nem os religiosos, mas
eles estão acostumados a aceitar qualquer coisa sem questionar, de
qualquer forma.
Onde está o livre arbítrio? Eu não posso escolher NÃO CONFESSAR que Jesus é o senhor de coisa alguma? Eu SOU OBRIGADO
a fazer isso? Onde está a minha escolha que dizem que tenho? A
explicação vem a seguir, neste mesmo capítulo, bem nos versículos
seguintes:
12. De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor;
13. Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.
14. Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas;
Versículo 12: Ameaça. Você deve ter medo, trema! Obedeça-me, pois ou meu Deus te fará sofrer de maneira horrenda!
Versículo 13: Não pense que você toma alguma decisão. Deus é quem decide o que você faz. Mesmo que você não acredite neste deus, é porque ele FAZ você não acreditar. Para quê? Para te punir depois.
Versículo 14: Cale-se! Você é escravo de minha vontade. Meu Deus disse que você deve me obedecer, como falei acima. Não reclame, não murmure, aceite seu destino miserável ou não importa, pois Deus é que comanda sua vontade.
Versículo 13: Não pense que você toma alguma decisão. Deus é quem decide o que você faz. Mesmo que você não acredite neste deus, é porque ele FAZ você não acreditar. Para quê? Para te punir depois.
Versículo 14: Cale-se! Você é escravo de minha vontade. Meu Deus disse que você deve me obedecer, como falei acima. Não reclame, não murmure, aceite seu destino miserável ou não importa, pois Deus é que comanda sua vontade.
Resumindo: as pessoas são marionetes e
Deus, enquanto puxa as cordas, as ama tanto quanto um ventríloquo ama um
boneco de madeira. Mas ao final do show, o boneco vai para uma caixa e
ficará lá até seu dono resolver brincar com ele novamente.
Mas religiosos teimarão até à morte que
temos liberdade de ação. Temos? Ok, vejamos, eu me recusei a ter Jesus
no meu coração e em qualquer outra cavidade do meu corpo. Assim, eu
estou destinado a ter sérios problemas daqui pra frente. Tomemos o caso
do Haiti. As pessoas escolheram morrer de forma bárbara naquele
terremoto? Bem, teve tosco que falou que era por causa da macumba.
Cristãos estão ilesos? Zilda Arns morreu dentro de uma igreja, a casa
de Deus, sendo que ela era freira. De repente, era porque ela não era
evangélica. Tão evangélica como as pessoas que morreram no desabamento da igreja Renascer.
“Mas eles estão sentados ao lado de Jesus.”
Preciso mesmo comentar isso?
Tomemos a primeira punição: Adão e Eva
(estamos no folclore judaico, tomado emprestado pelos cristãos). Para
chegarmos a isso, temos que voltar um pouco no tempo.
Javé, num certo espaço de tempo – antes
de existir o tempo, propriamente dito – resolveu criar o mundo. Seu
poder é imenso, sua sabedoria é vasta e seu conhecimento transcende a
realidade, podendo “ver” as coisas de maneira não-linear. Em outras
palavras, tudo está ocorrendo ao mesmo tempo perante os olhos de Deus.
Dessa forma, ele tem conhecimento do presente, passado e futuro,
independente das possibilidades. Ele é Deus e nada supera seu poder.
Muito bem, Deus cria o mundo SABENDO que
criaria a humanidade (não estou preocupado com o “porque” disso, posto
que não é relevante para esta discussão). Deus SABE que a humanidade
surgirá de Adão e Eva, pois ele criará Adão e Eva. Como sua percepção é
não-linear, ele sabe TUDO o que vai acontecer. Ele cria uma Árvore do
Bem e do Mal para pôr no Eden. Para quê? Para testar Adão e Eva, sendo
que ele SABE o que vai acontecer. Assim, por que ele põe a droga da
árvore lá? Para testar. mas para que ele precisa testar? Bem, Eva faz
Adão comer o fruto. Ok. EPA! Ok, não! Ela só fez Adão comer porque a
serpente induziu ela a comer. Mas Deus deveria saber que a Serpente
faria isso. Em outras palavras: se Deus não tivesse colocado a árvore lá
NEM tivesse criado a Serpente, Adão e Eva ainda estariam no Paraíso até
hoje.
Se levarmos Filipenses ao pé da letra (e
a Bíblia proíbe que se altere o sentido das palavras), a Serpente fez o
que Deus queria e tentou Eva. Eva fez o que Deus queria e deu o fruto a
Adão. Adão fez o que Deus queria e comeu a droga do fruto.
Façamos um experimento mental (é apenas
mental, eu não sou psicótico para realizá-lo de modo real). Eu coloco
uma criança e digo: “Coloquei um doce em cima da mesa. NÃO COMA O DOCE!”
Sento e fico observando.
Minha mulher chega e fala pra criança:
“Vai lá e pega o doce”. A criança, lembrando o que falei, dirá que não.
Minha mulher insiste: “Não, pode ir lá comer que não acontecerá nada”.
Eu ainda estarei observando cada passo dos acontecimentos, sem perder
nada.
De tanto minha mulher insistir, a
criança vai até o doce e o come. Eu apareço de sopetão e começo a bater
na criança com uma vara de marmelo. Xingo, bato, machuco e a jogo porta
afora, condenando uma criança pequena a enfrentar o mundo sozinha.
O que o Conselho Tutelar pensaria disso?
Outro experimento mental: Eu vejo um
cristão atravessar a rua, mas eu percebi que vem um carro em alta
velocidade. Eu tenho como chegar a tempo e empurrá-lo (ou puxá-lo) para
fora da pista. Se eu fizer isso, interferirei no livre arbítrio dele de
andar no meio da rua. Ninguém mandou ele ser relaxado e não olhar
direito pra saber se vinha carro. Logo, o mais lógico seria ele arcar
com sua ação, certo? Se eu parar e ver o atropelamento sem dar nenhuma
assistência, nem mesmo depois do acontecido, com várias testemunhas
certificando que eu PODIA ter impedido, que eu tinha PODER para impedir a
tragédia, o que elas falarão? Lembremos que tudo são ações de Deus.
Isaías cap. 45 disse que todo o mal e todo o bem provem de Deus. Logo,
ele é que decide o que vai acontecer. Omissão de socorro? Mas eu não fiz
nada, não fui eu quem disse pro cristão andar despreocupadamente pela
rua nem era eu que estava no volante.
Fica-se a pergunta: Por que existe o
mal? Por que pessoas sofrem. Por causa do livre arbítrio? Mas Isaías
disse que o mal feito pelo próprio Deus. Filipenses disse que todas as
nossas ações são obra de Deus. Onde fica a responsabilidade dele? Assim,
ele faz por pura maldade.
Terceiro experimento mental: Eu pego um
pastor evangélico, padre pedófilo ou pai-de-santo estelionatário e os
amarro. Se algum deles conseguir se safar, a explicação está em duas
alternativas:
1. Ele(s) se soltou(aram) porque eu não foi eficiente em amarrá-los direito.
2. Ele(s) se soltou(aram) porque eu permiti.
2. Ele(s) se soltou(aram) porque eu permiti.
Assim, eu não tenho capacidade de
contê-los OU não tenho a intenção de contê-los presos. Dessa forma, se
eles escapam, é por minha culpa, em cada uma das duas hipóteses. Se eu
fosse o melhor amarrador do mundo, com poder infinito, eles JAMAIS
poderiam fugir. Dessa forma, ou eu sou um incompetente para amarrar
salafrários, ou sou um canalha por permitir que eles fujam.
Para os calvinistas, não existe o livre
arbítrio, existe predestinação. Ou seja, você continua sendo uma
marionete e nem a falácia que você tem liberdade de tomar decisões lhe
cabe. Eu não sei como alguém consegue viver assim, baixando a cabeça,
mas também devo admitir que é o mais próximo ao que diz na Bíblia. Tudo
foi pré-determinado, não há como fugir! Deus escolheu todos os seus
sofrimentos e nem você nem ninguém poderá impedir isso. As amarras estão
bem presas e você está completamente escravo de uma decisão superior e
não lhe cabe reclamar ou mesmo murmurar. Só lhe cabe o desespero.
Não, o conceito de livre arbítrio não
coaduna com o de omnisciência e omnipotência (características divinas),
restando o paradoxo de Epicuro:
Para Deus e o Mal continuarem existindo ao mesmo tempo é necessário que Deus não tenha uma das três características.
Se for omnipotente e omnisciente, então
tem conhecimento de todo o Mal e poder para acabar com ele, ainda assim
não o faz. Então, Deus não é bom.
Se for omnipotente e benevolente, então
tem poder para extinguir o Mal e quer fazê-lo, pois é bom. Mas não o
faz, pois não sabe o quanto Mal existe, nem onde o Mal está. Então, Deus
não é omnisciente.
Se for omnisciente e bom, então sabe de
todo o Mal que existe e quer mudá-lo. Mas isso elimina a possibilidade
de ser omnipotente, pois se o fosse erradicava o Mal. E se, Deus não
pode erradicar o Mal, então, Deus não é omnipotente.
Se ele não é omnipotente, omnisciente e/ou bondoso, por que chamá-lo de “Deus”?
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