segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Racionalidade como Solução de Todos os Males do Mundo

  A racionalidade pode ser definida como o hábito de considerar todos os nossos desejos relevantes, e não apenas aquele que sucede ser o mais forte no momento. (...) A racionalidade completa é, sem dúvida, ideal inatingível; porém, enquanto continuarmos a classificar alguns homens como lunáticos, é claro que achamos uns mais racionais que outros. Acredito que todo o progresso sólido no mundo consiste de um aumento de racionalidade, tanto prática como teórica. Pregar uma moralidade altruística parece-me um tanto inútil, porque só falará aos que já têm desejos altruísticos. Mas pregar racionalidade é um tanto diferente, porque ela nos ajuda, de modo geral, a satisfazer os nossos próprios desejos, quaisquer que sejam. O homem é racional na proporção em que a sua inteligência orienta e controla os seus desejos.Acredito que o controle dos nossos actos pela inteligência é, afinal, o que mais importa e a única coisa capaz de preservar a possibilidade de vida social, enquanto a ciência expande os meios de que dispomos para nos ferir e destruir. O ensino, a imprensa, a política, a religião - numa palavra, todas as grandes forças do mundo - estão actualmente do lado da irracionalidade; estão nas mãos dos homens que lisonjeiam Populus Rex com o fito de desencaminhá-lo. O remédio não está em nada heróico nem cataclísmico, mas nos esforços dos indivíduos no sentido de uma opinião mais sadia e equilibrada das nossas relações com o próximo e a sociedade. É à inteligência, cada vez mais divulgada, que devemos recorrer para a solução dos males de que sofre o nosso mundo.

Bertrand Russell, in 'Ensaios Cépticos: Os Homens Podem Ser Racionais?'

Nenhum comentário:

Postar um comentário