A racionalidade
pode ser definida como o hábito de considerar todos os nossos desejos
relevantes, e não apenas aquele que sucede ser o mais forte no momento.
(...) A racionalidade completa é, sem dúvida, ideal inatingível; porém,
enquanto continuarmos a classificar alguns homens como lunáticos, é
claro que achamos uns mais racionais que outros. Acredito que todo o
progresso sólido no mundo consiste de um aumento de racionalidade, tanto
prática como teórica. Pregar uma moralidade altruística parece-me um
tanto inútil, porque só falará aos que já têm desejos altruísticos. Mas
pregar racionalidade é um tanto diferente, porque ela nos ajuda, de modo
geral, a satisfazer os nossos próprios desejos, quaisquer que sejam. O
homem é racional na proporção em que a sua inteligência orienta e
controla os seus desejos.Acredito que o controle dos nossos actos
pela inteligência é, afinal, o que mais importa e a única coisa capaz
de preservar a possibilidade de vida social, enquanto a ciência expande
os meios de que dispomos para nos ferir e destruir. O ensino, a
imprensa, a política, a religião - numa palavra, todas as grandes forças
do mundo - estão actualmente do lado da irracionalidade; estão nas mãos
dos homens que lisonjeiam Populus Rex com o fito de desencaminhá-lo. O
remédio não está em nada heróico nem cataclísmico, mas nos esforços dos
indivíduos no sentido de uma opinião mais sadia e equilibrada das nossas
relações com o próximo e a sociedade. É à inteligência, cada vez mais
divulgada, que devemos recorrer para a solução dos males de que sofre o
nosso mundo.
Bertrand Russell, in 'Ensaios Cépticos: Os Homens Podem Ser Racionais?'
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