segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Sobre medicina e “milagres”


 
Num artigo publicado no Journal of Medical Ethics, “pais que confiem em intervenções divinas, mesmo depois dos médicos afirmarem que não existe esperança de sobrevivência, estão a colocar os filhos em tratamentos agressivos, mas fúteis”.

Igualmente, foi feita a referência no mesmo artigo que, “famílias que estão entrincheiradas em esperanças de curas milagrosas estão a ser progressivamente recomendadas a “bloquear” opiniões médicas”.
Os médicos do Great Ormond Street Hospital, e autores do artigo pedem que haja uma nova legislação que reduza o “peso” das crenças religiosas em casos médicos.
Este artigo segue-se a uma meta análise de 203 casos, onde em 186 dos 203, país e médicos acordaram que não deviam ser feitos tratamentos mais agressivos apesar de ineficazes. No entanto, em 17 casos, os pais insistiram na continuação de tratamentos, apesar de não haver qualquer benefício dos mesmos. Desses 17 casos, 11 a principal razão era crença religiosa. Alguns desses casos foi necessária a intervenção de lideres religiosos para ser permitido que a criança morresse.
“Apesar de ser vital a apoio às famílias em tempos tão difíceis, estamos cada vez mais preocupados que crenças religiosas enraizadas podem levar a crianças serem potencialmente submetidas a tratamentos muito agressivos, na expectativa de uma “intervenção milagrosa”. Em muitos casos, as crianças visadas são demasiado novas para terem uma opinião formulada sobre a crença religiosa, no entanto, os médicos têm de respeitar as crenças dos pais”.
Manter uma criança num tratamento sem qualquer esperança de cura, pode ser contra a European Convention on Human Rights, que proíbe tortura:

Como seria de esperar, alguns religiosos já vieram dizer que isto é “uma tentativa de impor valores seculares às religiões”. E como de costume, só mostram mais uma vez que o seu fanatismo é uma perpetuação de obscurantismo.
Este “monopólio” que os religiosos pensam ter sobre questões de vida e de morte, só mostra que não têm qualquer compreensão sobre questões de sofrimento. Cada vez que temos uma notícia de uma criança que morreu porque lhe foi negado tratamento médico porque os pais não queriam com base em pressupostos religiosos, ou no caso desta notícia, só mostra que certas interpretações religiosas, principalmente aquelas que gostam de “milagres” de ter certezas sobre “pós vida”, não tem respeito pelo próprio ser humano. Preferem ver uma pessoa (e crianças ainda mais) a sofrer, em agonia, em incompreensão, porque os seus deuses podem (apesar de nunca se verificar) interceder.
Esta é também uma mensagem para aqueles que vão colocar velas a Fátima, ao mesmo tempo que recusam aceitar o óbvio: o tempo que temos é este, e a energia que se perde a pedir milagres, ou à espera que eles aconteçam, só nos rouba é exatamente esse tempo, para estar com aqueles que amamos, para nos prepararmos para a sua partida, para lhes proporcionar uma morte digna.
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